quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

MINHA PRINCESA, MINHA MÃEZINHA.



Ontem, eu estava segurando em sua mão enquanto ela partia. Minha mãezinha estava nos deixando para estar em um lugar melhor. Ora, o que falar sobre esse momento? Iria falar do período de quase um mês de dor e sofrimento no hospital? Não, certamente que não.
Meu coração se enche de uma alegria e de uma paz louca, que poucos compreenderão. Deus fez o milagre de vivermos esses quatro anos, após o tratamento do câncer de mama, com muita alegria e bem. A metástase cerebral se manifestou apenas no último momento...que maravilha. Minha mãezinha pôde viver e curtir bem esses quatro anos.
Muita alegria...e falo assim, sempre em alegria, pois ela só passava isso, com aquele seu sorriso tímido e terno. Tão simples, tão quieta, mas sempre me ensinou valores preciosos, mas não apenas verbalizando, com o seu exemplo. Apaziguadora, forte, confiante, cheia de esperança e fé ela sempre viveu assim. Quantos carinhos e manhas recebi...cafunés, éramos uma mãezinha da outra. Só um louco para não gostar dela. As crianças, então, adoravam, pois ela tinha um coração de criança e aproveitava para brincar e interagir com elas de tal modo que só se via muito amor.
Nossa, se eu, mãezinha, conseguir viver com um pouco da doçura que a senhora mantinha mesmo após tantas dores e sofrimentos, eu sei que viverei bem e feliz. Se eu conseguir perdoar como a senhora sempre fez...não haverá trevas em meus caminhos. Se eu apaziguar meus ânimos e dos que estão ao meu redor como sempre a senhora agiu...terei dias sossegados e seguros.
É fato que eu queria te ter ainda aqui comigo, ao meu lado, viver mais anos juntas, mas eu te curti bem...eu, ainda que com tantas falhas, estive sempre contigo. Não me sinto em falta, pois te amei. E o mais interessante disso tudo é que, Deus me permitiu cuidar de você de modo especial. Eu sentia falta de entender o amor que uma mãe sente por um filho, para compreender e ser melhor filha para você, mas Deus me fez sentir isso e eu pude sim saber o quanto eu faria por você, o quanto doaria para te ver feliz, o quanto abriria mão para não te ver sofrer.
Foi por isso que, nos últimos momentos juntas, eu abri mão de te ter comigo para te entregar ao Pai, na certeza de estarias melhor, feliz, bem, sem dor, sem sofrimento, sem angústias, sem frustrações ou choro. A proposta dEle foi tão melhor que não pensei muito. E, em dado momento de angústia, ao te ver ali em sofrimento, inconsciente, sem interagir, eu orava e dizia: Senhor, tenha misericórdia, pois ela nem está comigo, nem está contigo neste momento. E Ele ouviu e fez o melhor...e eu, preferi assumir o ônus da saudade por te amar demais.
Então, assim, curta a sua eternidade...feliz ao lado de Deus, pois sei que minha vida estará também nas mãos dEle e ele cuidará de mim, como sempre cuidou de ti. Saiba que não sinto dor, pois não se pode senti-la quando entregamos, verdadeiramente, alguém a Deus. E não sei foi por ser tua filha coruja, mas até ali, na matéria gelada, estavas linda, irradiando paz e serenidade, uma verdadeira princesa. Amo-te para sempre, mãezinha, com a certeza que te verei novamente, linda, feliz, sorridente.