sábado, 30 de julho de 2011

A AUTOVITIMIZAÇÃO DO AGRESSOR.

Venho pensando nesse tema há muito tempo, mas hoje posso falar sobre ele sem qualquer sentimentalidade mesquinha ou inútil. Tão somente resolvo discorrer sobre um fato HUMANO que beira o obscuro, ou melhor, está nele inserido.
Então vamos para o início dessa história:
Tudo começou ali, no Éden, ao menos teoricamente falando. Quando a besteira foi descoberta, começou o jogo do passa a vez. O Criador querendo saber a causa e o homem preocupado em se eximir da culpa. Adão logo apontou: - Foi a mulher que me deste. No mínimo queria ter duas chances para tirar seu corpo do time (ou a culpa recairia na mulher ou no próprio Deus). Eva, por outro lado, não engoliu a corda e também procurou repassar a bola para a serpente. Esta, que não tinha mais a quem culpar, SE FERROU.
Pois é, está na índole humana repassar a responsabilidade de suas ações para outra pessoa (ou coisa). - A minha ação foi assim por culpa de... Até que a corda arrebente em alguém que não seja o EU. Mas, e quando não há a quem culpar? Pode-se estar no último lugar desse jogo, como a serpente, sem ter a quem repassar a bola ou o fato pode ser inescusável. O que fazer?
Bem, aí surge a criatividade humana, salvadora nas horas de agonia (e a serpente poderia ter usado essa técnica, se humana fosse), fazendo surgir, então, a AUTOVITIMIZAÇÃO DO AGRESSOR. Essa técnica consiste na habilidade do agressor (agente, deliquente ou qualquer outro que queira) em se tornar a vítima. E porque não dizer que a vítima que é o verdadeiro vilão da história? É como a causa excludente da responsabilidade civil: culpa exclusiva da vítima. Mas, é QUASE, pois assim estaria se admitindo que o erro/culpa foi cometido, mesmo que impulsionado pela ação de outrem. No caso em questão, a ideia é se tornar vítima mesmo, sem qualquer respingo de ato falho, um agredido no lugar de agressor.
Nossa! Parece que nós somos especialistas dar vazão ao que é ruim, ao que é mal. Qual a origem para tanto gosto por saídas EGOÍSTAS? Pensei muito até encontrar uma resposta. A explicação é uma só: síndrome do Peter Pan. 
Eureca!!! É justamente isso. O ser humano, em nossa contemporaneidade, insiste em não querer crescer, se enraizando numa infantilidade sem fim. Talvez seja porque crescer dói. É duro dizer: - a culpa foi minha. É supra-humano assumir as consequências que a falha venha causar. É irreal andar com a verdade.
Assim, estamos nós aqui, nesse mundo desorientado e que caminha na contramão da evolução, quem sabe esperando a aparição de super-homens capazes de mudar a realidade social a partir de simples gestos de maturidade humana.

3 comentários:

  1. Caríssimos, eu já havia escrito essa postagem há mais de três semanas, mas só agora resolvi publicar. Espero que a leitura seja divertida, pois modifiquei a forma de abordagem. Beijos.

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  2. Lídice,
    Que maravilha encontrar tudo isso num só lugar. Vc conseguiu, de maneira sábia, sintetizar os meus recentes pensamentos e sentimentos. Costumeiramente têm tentado me passar de vítima à agressora. Utopia minha achar que o mundo estaria preparado para o convívio com a verdade. Ela até se coloca diante de nossos olhos mas preferimos fechá-los à ter que aceitá-la. E eu??? Segui muitas vezes meu coração justiceiro, tentando colocar diante da plateia a verdade escondida, por vezes, em gestos, palavras, ações....todos dotados de falsidade, de uma ávida competência para o distorcer da realidade: de agressor à vítima. Como vc bem diz, "talvez seja pq crescer dói". Certa vez amiga, ainda na faculdade, meu mestre de IED me ofertou uma sábia lição, que pretendo carregar até meu último dia. Ele me disse que a capacidade de sentir o outro, de se colocar no lugar do outro é característica de poucos, sobretudo no mundo atual, onde impera o egoísmo. A essa característica límpida ele deu o nome de ALTERIDADE. Como poder entender a dor que foi causada se não se consegue sentir o outro, se colocar no seu lugar???? Definitivamente, a alteridade não acompanha os insensíveis. E os insensíveis, consequentemente, são superdotados na arte da autovitimização do agressor... Beijos, Genésia

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  3. Um comentário fantástico, Genésia. Havia até esquecido dessa palavra (alteridade) e você trouxe a definição mais clara e perfeita. Uma lição. Realmente, poucos têm isso, poucos sabem o bem de se ter. Beijos.

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